No fundo da mina

Certo dia perguntaram-me assim:
- Não tens medo de estar "lá" em baixo?
Ao que eu respondi prontamente:
- Tenho mais medo de estar "cá" em cima!

O "lá" refere-se às profundezas do subsolo, visto que estou a tirar o curso (já posso dizer Mestrado! =D) em Engenharia Geológica e de Minas.

Ontem fui visitar a SOMINCOR, empresa que explora o Cobre e o Zinco da mina de Neves Corvo. Não foi a minha primeira vez debaixo de terra, mas nunca tinha estado a uma profundidade tão elevada! Descemos até cerca de 620 m, e a essa profundidade, deparámo-nos com temperaturas da ordem dos 30º C e humidades relativas superiores a 90 %. A temperatura não era muito alta, mas com tanta humidade, dá origem a uma espécie de clima tropical (quase insuportável). Para quem tem alguns problemas respiratórios como eu, a situação não é fácil! Mas como quem corre por gosto não cansa, aguentei-me bem, apesar de estar a escorrer água (literalmente). Afinal quem não estava, na presença de semelhante ambiente?

A vida na mina não é fácil; a mina é escura, é suja, é quente, é assustadora, é perigosa, mas não há coisa mais fascinante que ela! Não sei se alguma vez deram conta que a indústria mineira tem uma particularidade que mais nenhuma outra tem: a matéria prima é-nos oferecida pela natureza! Cabe-nos a nós (engenheiros de minas) aproveitá-la da melhor forma possível.

Quando vim para este curso não sabia ao certo ao que vinha. Ou melhor, tinha tanto por onde escolher que não sabia o que havia de fazer quando cá chegasse fora. Hoje, estou cada vez mais convencida que o meu destino é dedicar-me à exploração mineira. Não me vejo a fazer outra coisa, apesar de este ser o trabalho mais arriscado de todos, mas só é possível fazermos algo bem, se o fizermos com paixão. E nada me agrada mais que estar no fundo da mina! Mas é como eu digo: é só mesmo para quem gosta ;)
Aloha