Monday, November 21, 2011

A crise e a sociedade de hoje em dia

Muito tem sido dito na sequência da reportagem publicada na última revista Sábado. Tenho que concordar com os argumentos apresentados por alguns dos estudantes entrevistados, sobre o facto de lhes terem feito várias perguntas, mas publicado apenas as erradas. Também o jornalista que fez a reportagem cometeu algumas incoerências graves. Isto mostra mais uma vez que os media deitam cá para fora apenas o que lhes interessa, o que vende e o que causa polémica.
No entanto, permitam-me dizer que, infelizmente, o nível de educação e de cultura geral está hoje muito mais baixo do que há umas décadas atrás. E isso é patente em muitos concursos televisivos, entrevistas e conversas.
Não sou defensora do Salazar – ele fez muita coisa boa mas também cometeu os seus erros (como todos, aliás). Mas no tempo dele, não havia cá segundas oportunidades. Sabia-se, passava-se; não se sabia, azar. Para o ano havia mais (foi a cantilena que mais ouvi enquanto frequentei o IST). Isto fazia com que as pessoas se esforçassem e fazia-se a escolaridade no tempo mínimo. Hoje em dia é vulgar um jovem andar 10 anos na Universidade a “passear”.
Eu estudei no IST (uma das faculdades mais exigentes do país), consegui fazer o curso em 6 anos e não sou nenhum prodígio. Na minha educação sempre me incutiram o valor do estudo e do esforço, e verdade seja dita, para além de não ter papás ricos a sustentarem-me, sempre me ensinaram a fazer as coisas no tempo certo. Não havia facilitismos. Andei numa faculdade pública porque quis (mas se quisesse uma privada, não teria essa sorte). Não tive explicações quando chumbei nas cadeiras mais difíceis, nunca tive um carro para ir para a faculdade (só porque chovia ou estava frio ou porque muitos colegas tinham e eu tinha de ter).
Prestes a terminar a faculdade, surgiu uma oportunidade de estágio em Sesimbra. Eu tinha de sair de casa às 6h para apanhar o comboio até Alcântara-mar, andar 10 minutos a pé até à paragem do autocarro que me levaria a Sesimbra. Uma vez lá, tinha de subir a colina até à zona das pedreiras (1200 m), de modo a lá chegar às 8h. Fazia isto tudo com um tripé às costas (uns 4 kg), entre outros materiais, e um sismógrafo em cada mão (2 kg cada). Que outro modo tinha eu de fazer isto, se não existia um carro a mais? Fiz, faria de novo se fosse preciso, e não me caiu nenhum bracinho por isso. Mas esta conversa toda para quê? Para provar que dantes também existiam dificuldades e as coisas se faziam (mas a mentalidade era outra); já hoje, apesar de tantos meios à disposição (para sermos mais cultos, por exemplo), existe uma falta de interesse inacreditável e desiste-se ao mínimo obstáculo. E a culpa é de quem? Dos pais que pouco se interessam pelos seus filhos, dos programas televisivos, que muitas vezes incitam a comportamentos errados. Senão vejamos, e vou escrever, mais ou menos, o que ouvi num episódio dos Morangos com Açúcar:
Pai: - Filho, é muito grave conduzires sem carta. Podes atropelar alguém e ser multado. Espera até passares no exame de condução.
Filho: - Não me chateies, eu tenho cuidado. Além disso, todos os meus amigos vão de carro e eu não posso ser diferente.
Mãe: - Deixa-o lá conduzir, todos têm carro, depois chateiam-no.
Filho: - Obrigado mãe, por me defenderes e compreenderes.
Ora parece-me que esta situação é tudo menos um bom exemplo para a juventude de hoje em dia, à qual tanto se pede para poupar nos recursos, pensar racionalmente, e agora, mais recentemente, poupar porque estamos em tempo de crise.
Eu sei que já me desliguei do meu tema inicial, mas está tudo relacionado. A falta de acompanhamento dos pais reflecte-se nos comportamentos errados dos filhos, que vão desde, desinteresse escolar, a comportamentos de risco (consumo de drogas, sexo desprotegido), passando por uma má gestão do seu dinheiro, seja ele ganho ou proveniente de uma semanada/mesada. E, aproveito para citar um excelente ditado popular, “Quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita”. Se não são incutidos nos mais novos bons hábitos de poupança e racionalização de recursos, bons hábitos de estudo e horários a cumprir, mais tarde essas pessoas terão uma enorme dificuldade em se adaptarem a horários de trabalho, responsabilidades familiares e outras adversidades da vida.
Isto para dizer que não é preciso andar às reguadas e aos castigos, como no tempo do Salazar, mas também não se pode permitir esta libertinagem toda, como se não houvesse amanhã. E foi com esse pensamento que entrámos em crise, a gastar mais do que o que tínhamos, a pedir créditos para pagar créditos, a ter “mais olhos do que barriga” só porque o vizinho ou o colega tinham isto e aquilo. Mas se calhar o vizinho e o colega podiam pagá-lo e agora não andam encalacrados. Ou se calhar estão ainda piores que nós. Façam a vida que podem ter, e não aquela que gostariam de ter. Crise? A crise só existe para os que quiseram voar mais do que as suas próprias asas. Triste é que agora pagam todos...
Aloha

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